terça-feira, 22 de julho de 2008

Página em Branco.





Seria eu compelido a dizer qualquer coisa que se escreva no repente da palavra.
Mas o que é a palavra senão algo findável? E o Verbo? Seria este a palavra antes de si mesma? Força inicial e fecunda de toda imaginação humana? O todo imaterial de todos os pensamentos do homem?
Há perguntas que não podem ser respondidas. Há perguntas que não se respondem com vãs palavras (ou até com as mais preciosas delas); há ainda aquelas que são respondidas apenas com a imaginação; no descolamento da alma, de suas limitações tangíveis e determináveis, e que só podem, senão, propulsar o bem mais precioso de todos aqueles que vivem por um olhar: a reflexão.
Que soltem os ventos cálidos da primavera de hoje pela lembrança dos de outrora! Que façam gerir os germes do sonho dentro e fora dos corações rotos, pelas palavras-imagens dos que contam histórias!
As histórias acontecem dentro das fronteiras infindáveis entre o coração e a alma dos autores em imaginação; regidos que são pela força que os impele a escrita de mais uma linha, emaranhados de palavras, sentidos, gestos – pela estranha e inexplicável vontade atávica do homem a contar aos seus (e aos dos outros) as prosopopéias das inconstâncias vividas.
Mais algumas linhas podem aparecer no exercício da minha respiração, nesta tarde de domingo primaveril, silenciosa e nostálgica.
Mas como saber das linhas que estão por vir? Não saber é valor condicionante, necessário e profícuo para quem se lança nas imensidões de uma página em branco. Não saber é segredo que ainda não temos para contar; é o limiar entre os palácios infinitos da memória e os incontáveis olhos, que não vemos, fora deles.
Se olho para uma página em branco imagino-a repousada sob uma superfície de madeira escura e hachurada, contrastante e delimitadora de suas margens breves. Logo posso vê-la como uma fenda, buraco, passagem qualquer, independentemente do ângulo que se busque olhar, às dimensões indizíveis. Quanto a mim, prefiro o afastamento que vem do alto, do plano superior do meu olhar à baixo. Dali, parado, na concentração dos olhos da alma, passeio na fluidez pálida do papel, seus cantos e centros plurais, que me conduzem para além do infinito branco, em lugar tão maior do que o próprio infinito, que a sensação, em primárias palavras, poderia ser descrita como p e r d e r – s e. Em poucos instantes, tudo mais ao redor está desfocado, multiplica-se em camadas sobrepostas, derrama o branco na madeira, mergulha tudo no íntimo do mistério... e a pagina branca sou eu.

Um comentário:

Raphael Oliveira disse...

Essa coisa toda de verbo, palavra e imaginação é muito complicada pra mim.
Rogo-vos, ó,pois que me esclareça!