sexta-feira, 24 de julho de 2009

Então é assim que começa...

Amor Vincit Omniac. 1601-02
Oil on canvas75 1/4 x 58 1/4 in (191 x 148 cm)
Gemaeldegalerie, Berlin


Então… pode-se dizer que assim começa a nossa história. Sem um grande final. Mas há quem acredite que ainda existe muito a que se contar pelo futuro ainda não vivido. Mas essa é outra parte da história que, ao seu tempo, vou-lhes contar. Entretanto, o que agora faz-se importante dizer é do amor que insiste em latejar dentro de nossos corações embaçados por sentimentos de medo.
Naquela tarde de inverno, nossas almas se amaram para valer; se entregaram a iluminação de uma beleza sem par em nossas histórias individuais. Havia silêncio pleno, rostos iluminados, olhares de satisfação, corpos nus. Tudo se enquadrava como numa película de cinema: a cor do quarto, sol frio e amarelo entrando pela janela, roupas displicentemente jogadas pela casa, ecos de gargalhas e sorrisos agora já em silêncio íntimo...
Era preciso muita dissimulação para tudo aquilo não ser verdade absoluta e inequívoca. Embebidos de todos os sentimentos cegos que só a paixão confere ao ser humano, nada podia estar ou ser errado naquela tarde de inverno. Nossos corações se prometiam a um futuro imaginado... perfeito. Mas as horas andam sem que possamos frear o tempo, e aquela tarde se foi.
Houve malas prontas... beijos apertados no corredor, abraços sufocantes e cálidos com uma dor de despedida que não se cabia, porque afinal, no final de semana seguinte havia a promessa do reencontro. Mas ali tinha uma pequena dor incômoda e ligeira ao segurar mala, casaco, bolsa no caminho à porta. Por quê? Não sabia, o que hoje sei e o que me leva a escrever estas linhas.
***
Lá estava eu novamente sentado em minha cadeira envolto a papéis e planilhas compenetrado nos projetos que caminhavam sob a minha coordenação, quando ela, leve como uma avalanche, entra; rosto marejado por lágrimas presas na garganta, face branca manchada de vermelho, como borrifos de sangue; anda de um lado para o outro tentando buscar um sentido para sua presença estranha em minha sala.
Claro que eu perguntei o que estava acontecendo! Mas a insistência pelo “nada” era por de mais falsa. Claro que existia alguma coisa nada profissional a ser despejado em mim, sobre a minha mesa, cadeira, planilhas, papéis. E mais uma vez o “nada” se repetia em sua voz engasgada. Foi, por isso, que eu me levantei. Fui até perto dela, que se esquivava e chorava mais, segurei-a pelo braço, em olhar profundo, e pedi: “Diz! Por favor, o que acontece!?”.
E ali fiquei sabendo da mais pérfida teia de intriga, que nesse meu tempo de vida, pude ser envolvido.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

repercussões acerca do sofrimento


- Onde está o amor?!
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Numerosos são os doentes que se perdem pela língua ou pela pena (Dinouart, 1771).
Numerosos são os doentes em silêncios barulhentos.No vale que vivem os homens cultivam-se flores. Mas para quem? Para quê?Flores não fazem barulho para crescerem. Então, por que há tantos doentes?
***
Mergulho na imagem profunda de um espelho d’água calmo e tranqüilo de um grandioso lago, na expectativa de submergir na densidade refratária de sua superfície trapaceira. Todo espelho d’água engana, confunde, desvirtua a percepção dos que se deixam olhar refletido. Até mesmo o céu, em sua infinitude, logra uma desventura hipnótica e confusa na limitada área de um lago.Visto de cima, observado de lado, sem ventos ou folhas que caiam, a superfície de um lago é sempre aprazível; evoca o infinito do infinito trazendo o céu para terra.Quando abaixo do fio d’água, somos o lago; e visto de baixo para cima não há clareza que transmita o esplendor que acalma. Vêem-se ranhuras trêmulas de pouca luz a embaçar os sentidos. Esta, talvez, possa ser uma aflição humana; uma aflição daqueles que não têm preparados órgãos de enxergar embaixo d’água. Mas, talvez, também os peixes não se extasiem com o lado externo da superfície.Vemos diariamente histórias de vidas serem contadas debaixo do espelho d’água. Histórias silenciadas em si mesmas. Embaixo d’água o som humano não se propaga direito, abafa-se, engasga-se.Na superfície, envolta de tanto ar, o som se debate sem muita verdade. Ouvem-se muitas palavras e olha-se muito a própria imagem. Na superfície calma e tranqüila não há tempo para ver o outro porque tudo parece tão perfeito, tão organizado que é preciso abster-se dos ruídos externos para apenas importar-se com seus próprios detalhes.Com ventos um pouco mais fortes, do que a leve brisa costumeira a borda do grande largo, espelho não é mais espelho é onda, marola... Aparta afixação humana de seus autodetalhes num forçoso convite ao olhar entorno. Vento é ar em movimento; brisa é vento que não cresceu.
***
Não se pode falar da luz sem o conhecimento das trevas; não se pode falar do silêncio sem referenciar a palavra; não pode haver liberdade se não houver mais amor.

terça-feira, 31 de março de 2009

PASSA-PASSARÁ
Da série DIÁRIOS DE UMA VIAGEM POR VOLTA DA BOCA
Gravura Klimt



Nesta noite,
sinto falta de tudo.
grandes contrastes se apresentam diante de mim sem escolha.
Boa sorte a minha estar aqui, nesta noite, escrevendo linhas sem pouca tristeza no peito.
Há em mim tantos desertos!
vastos em suas próprias insgnificancias.
Desertos ilhados em mares de areia.
É assim, caminhando numa imagem emprestada por tantos outros, que vou andando...
empoeirando-me em rodamoinhos de vento.
Talvez, seja assim mesmo as caminhadas por essas bandas de cá;
sentir os grãos de areia craquelarem entre os dentes;
retirar os sapatos na espectativa de "desacumular" a terra por entre os dedos, e,
na verdade, perceber o contrário (...)
Nesta noite,
só queria saber o que dizer!
porque de sensações estou repleto.
... de desejo: transbordo.
nesta noite,
estou inquieto.

segunda-feira, 30 de março de 2009


Novamente estou diante de uma pagina em branco e o não saber se torna condicionante a idéia de seguir em frente. Mas o que há para seguir?! Talvez mais palavras soltas do que propriamente idéias a serem contadas.
Acho que na verdade, o que eu realmente queria era poder contar uma boa história de aventura, romance... ou qualquer coisa que se valha! Falar sobre os sonhos de liberdade que orbitam minha mente e o universo coletivo de muitas pessoas como eu ou você.
Todavia a liberdade, ou mesmo o sonho dela, é uma concepção mutante do que venha a ser o ser humano e sua situação “involuída” face a grandiosidade de tudo que o cerca, fora suas invenções.
Contudo acredito que esse não seja o melhor caminho para iniciar o que sinto ser uma boa história; seria, talvez, se perder de mais num universo labiríntico sem possibilidades reais de prosseguimento.
E até aqui a dúvida permanece: o que vem a seguir!?

(...) De repente paro; olho para o lado do laptop vejo, embaixo de um porta-lápis, uma foto antiga de polaróide. Retiro o objeto de cima, olho aquela imagem com atenção afetiva reparando o tempo nos detalhes: luz estourada esmaecendo as curvas dos rostos, roupas, planta,áreas com pouca definição... um cenário escolar. Ali em uma tarde qualquer, entre aulas e conversas, alguém com uma câmera surge como dono da novidade! E o que ficou registrado foram sorrisos diletos, despretensiosos; acho que as pessoas desta foto sabiam (sem saber) que elas acabaram de fotografar a saudade futuramente sabida. Eram seis pessoas. Eu, o único menino.